sábado, 6 de dezembro de 2008

Posses 2008 (texto)



ANO DA GRAÇA DO SENHOR DE 2008
(8 APÓS O APOCALIPSE)
Cenas da decadência dos costumes... ___________________________________________________
Acho que está gente lá fora, camaradas!
Quem será agora? Não há bonança!
‘inda não estão as travessas arrumadas,
‘Inda nem arrotei… E já começa a dança?

Ó Simões vai lá ver tu, que és mais novo,
Eu estou velho e o frio fode-me as costas.
Manda-me calar, depressa, esse povo,
Se tiver de ir lá abaixo, corto-os às postas.

Levantai-vos, chefes-de-bombos, pregoeiros,
Presidentes, vogais de festas e tesoureiros,
Venham velhos, é a Comissão, os galhofeiros,
Mais o bom povo e os nossos gaiteiros…

Que visão fantástica, para estes olhos cansados,
Nem este frio consegue arrefecer a tradição!
Nunca estes momentos sejam desperdiçados,
Pois são estas noites que me enchem o coração.

Brindo a vós, prodigiosa juventude nicolina,
Com este copo de Macieira, cheio de saudade,
Já se me aperta a garganta, fica pequenina,
Tenho inveja de vós todos, essa é a verdade!

Não liguem, já deu cabo de uma garrafeira,
Depois fica assim: dá-lhe p’rá nostalgia…
A única coisa que a alma lhe aligeira,
É ver tocar a banda, e dançar com alegria! ___________________________________________________

Ena, que maravilha todo este musicol,
Acho que até desempenei co’a dança,
Vou tirar depressa este quente cachecol,
Volto p’ra mesa, e encho mais a pança.

É o costume: os excessos, não há tino no caco…
Já mamou uns cinco metros de farinheira,
Depois, anda uma semana a bicarbonato…
E no fim de tudo, apanha outra borracheira…

Cuidai, amigos, que os rojões tinham defeito…
No meio da azia, até tive uma alucinação,
Adormeci na retrete, enquanto cagava a eito,
E sonhei com a ministra da educação…

Já eu, digo-vos, em boa verdade,
Que com a escola em tal estado,
O curso do Sócrates ser uma falsidade,
Já nem me traz lá muito preocupado…
Isso num é nada, só efeito da caganeira.
Eu, ontem, tive um pesadelo bem pior:
Tinha emprestado dinheiro ao Oliveira
E o Constâncio é que servia de fiador…

Só falais de coisas más, rapaziada,
Acho que precisais de apanhar ar…
Para animar, venha música afinada,
Que toque a banda, e vós, é dançar! __________________________________________________
Há que dar de comer a esta malta!
E de beber, se tiver sobrado macieira,
Venham lá desabafar a vossa alma!
Não se pode ficar aqui a noite inteira!

Macieira…? Já nume quer parecer,
Mas acho que ainda sobrou algum vinho,
Uns chouriços, pão e p’ra acrescer…
Pareceu-me ver por aí um passarinho.

Eu quero dizer uma coisa imprescindível!
Porque é sempre devida a justa retribuição!
Se o ano passado o pinheiro foi sofrível,
Este foi do melhor, parabéns à comissão!

Tocou-se bem, acabou a horas decentes,
Mas há factores de grande preocupação,
Para as festas se mostrarem coerentes,
Recuperem as Maçãzinhas e o Pregão!

Se o pinho é, para os velhos, a saudade,
Estes dois são da juventude, um sinal,
Se aquele é quase uma festa da cidade,
Estes são os mais belos de Portugal!

Que participem em massa, os nicolinos estudantes,
E que tenham sempre uma bela nicolina para amar,
Nós velhos, invejamos ao longe esses instantes,
Para não doer, que toque a banda e vamos bailar!
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Gostamos muito da companhia prezada,
Do povo bom, da nossa cidade amada,
Por isso, lhe agradecemos a pachorra,
De nos aturarem, mesmo que chova.

Às gaitas, ó Banda, sem temor!
Aos saltos, ó Povo, nosso amor!
Limpar as gargantas, para não haver tosse:
Aos gritos, ó Comissão, d’ e venha a posse!

Desça o cesto devagar, suba lesto e sem parar!

GEORGIVS CASTELORVM VIMARANIS
VIMARANIS IV POST KALENDAS DECEMBRII MMVIII

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